quinta-feira, 30 de abril de 2015

Currículo e Formação de Professores: uma análise reflexiva sobre a inserção da Educação Ambiental em três Escolas Estaduais de Araguaína e nos cursos de licenciatura da Universidade Federal do Tocantins

Diôgo Januário da Costa Neto 
Graduado em Biologia, UFT/Araguaína
Currículo Lattes
 Lilyan Rosmery Luizaga de Monteiro 
Profª Drª em Ciência Animal
Currículo Lattes


“Precisamos de pessoas perseverantes diante das dificuldades, que nunca desistam dos seus ideais, que sonhem com um mundo melhor e tenham coragem de lutar por ele. Pessoas menos egoístas, que estejam preocupadas com a qualidade de vida da próxima geração”
Daniel Tomaz


Resumo 
A pesquisa objetivou analisar a inserção da Educação Ambiental (EA) no currículo de três escolas estaduais de Araguaína, Tocantins e de 22 cursos de licenciatura da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Após análise do Projeto Político Pedagógico das escolas e do Projeto Pedagógico dos Cursos de licenciatura, foram identificados seis projetos em EA implantados nas escolas, sendo 83,3% programas do governo Federal, e que em apenas 27% dos cursos de licenciatura da UFT ofertam a EA como disciplina específica. Para atender às diretrizes Curriculares Nacionais para EA, é importante que seja ofertada uma disciplina específica nos cursos de licenciatura.

Palavras-chave: Cidadania, Educação, Meio Ambiente. 

Abstract 
The objective of this research was to analyze the integration of Environmental Education (EE) in curriculum of three state schools from Araguaína-Tocantins and 22 undergraduate programs of the Federal University of Tocantins (UFT). After analysis of the Political Pedagogical Project of schools and the Pedagogical Project of the Courses, six projects were identified in EE deployed in schools and 83.3% of Federal government programs, and only 27% of the undergraduate courses of UFT offer EE as a specific discipline. To meet the National Curriculum Guidelines for EE, it is necessary to offer EE as a specific discipline established in all undergraduate programs. Keywords: Citizenship, Education, Environment.

Introdução 

          As preocupações com as questões ambientais ganharam proporções mundiais com a publicação do Livro "Primavera Silenciosa" da escritora Americana Rachel Carson em 1962, nele a autora denuncia os impactos ambientais negativos provocados pelo uso de pesticidas na agricultura. Desde então, grandes encontros e conferências ocorreram em diversas partes do mundo que decidiram novos rumos para a sociedade.
          Dentre as grandes realizações, destacam-se a criação do Clube de Roma em 1968, em que especialistas do mundo todo discutem sobre os problemas ambientais; a Conferência de Estocolmo realizada em 1972, na ocasião foi publicado o relatório ―Limites do crescimento‖, elaborado pelo clube de Roma; o Encontro de Belgrado ocorrido em 1975, que considerou a Educação Ambiental (EA) como mecanismo para a defesa do Meio Ambiente; a Conferência de Tbilisi dada em 1977, que definiu os objetivos, princípios e as finalidades da EA; e a Conferência do Rio de Janeiro realizada em 1992, que considerou o desenvolvimento sustentável como novo modelo e elaborou a agenda 21. 

"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖" (Brasil, 1999). 

          A EA passou a ser regulamentada no Brasil em 1999, com a implantação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), regulamentada pela Lei Federal n°9.795/1999 (Brasil, 1999) e decreto n°4.281/2002 (Brasil, 2002), que recomenda a inclusão da EA em todos os níveis e modalidades de ensino da Educação, devendo para sua inserção serem observadas as recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais, sendo inserida em todas as disciplinas de modo transversal, contínua e permanente. 
          No Estado do Tocantins, a EA passou a ser regulamentada em 2003, com a Política Estadual de Educação Ambiental (PEEA), pela lei Estadual n°1.374 (Tocantins, 2003).  A responsabilidade pela PEEA no âmbito formal compete à Secretaria de Educação e Cultura (SEDUC) do Estado.
          Em 2012 foram estabelecidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, através da resolução do CNE/CP n° 2/2012. A partir de então, torna-se uma "obrigação" das instituições de ensino incluir a EA em suas práticas educativas. Dentre as diretrizes é definido que "Os cursos de licenciatura, que qualificam para a docência na Educação Básica, e os cursos e programas de pós-graduação, qualificadores para a docência na Educação Superior, devem incluir formação com essa dimensão, com foco na metodologia integrada e interdisciplinar" (Brasil, 2012). 
      Para atender a essas recomendações e diretrizes, os futuros professores precisam receber subsídios durante a graduação para atuarem nessa perspectiva nas escolas. Diante disso, surgiram algumas inquietações reflexivas: como as escolas Estaduais de Araguaína estão tratando a temática ambiental em seus projetos políticos pedagógicos? Quais ações e projetos em EA estão sendo desenvolvidos nas unidades escolares? Em que circunstâncias os cursos de licenciatura da Universidade Federal do Tocantins (UFT) oferecem subsídios para os futuros professores exercerem a educação ambiental na educação básica? Os professores atuantes na Educação básica recebem capacitação para realizarem ações em EA? Existem recursos para tais finalidades? 
          A presente pesquisa teve por objetivo analisar a inserção da Educação Ambiental no currículo de três escolas Estaduais de Araguaína, Tocantins e dos cursos de licenciatura da UFT. 

Material e Métodos 


          O trabalho constituiu-se de uma pesquisa qualitativa dividida em dois estudos desenvolvidos no período de maio a setembro de 2014. O primeiro estudo foi realizado em três escolas Estaduais de ensino fundamental e médio localizadas no município de Araguaína, Estado do Tocantins. Sendo desenvolvidas as seguintes atividades: 

 Análise do Projeto Politico Pedagógico, para identificar projetos em Educação Ambiental (EA) desenvolvidos; 
 Entrevistas com professoras atuantes na educação básica; 
 Entrevista com Supervisora Educacional da Diretoria Regional de Ensino de Araguaína. 

          O segundo estudo foi realizado na Universidade Federal do Tocantins (UFT), sendo analisado o Projeto Pedagógico de Curso dos 22 cursos de Licenciaturas relacionados no quadro1.



Resultados e Discussão 


A educação ambiental no currículo de três Escolas Estaduais de Araguaína,TO
       
          Nas três escolas, constatou-se que a Educação Ambiental (EA) está inserida através de projetos (Quadro2). Ao todo seis projetos foram identificados no Projeto Político pedagógico das três escolas, sendo 83,3% deles Programas do Governo Federal, dentre eles o programa ―Mais educação‖ que consta como projeto desenvolvido nas três escolas e a Comissão de Meio Ambiente e qualidade de vida na Escola (COM-VIDA), sendo desenvolvido em duas.  


          O Projeto Agenda 21, desenvolvido na Escola 1, tem por objetivos desenvolver a educação Ambiental na escola e despertar os alunos para a questão de preservação do ambiente em que vivem. Dentre as ações do projeto estão: Avaliar o espaço físico da escola; Sensibilizar professores; Plantio de Mudas; Palestras; Oficinas; Evento dia da Água; Exposição de trabalhos; Caminhada de conscientização Ambiental e arrecadação de Alimento; Concurso Garota e Garoto Ecologia para os alunos que apresentarem ações; Disponibilizar garrafinha de água para os professores; Concurso de Paródias e Poesias sobre Meio Ambiente e Noite Ecológica. 
          O Projeto O homem e o impacto ambiental da Escola 2 tem por objetivo desenvolver de forma interdisciplinar ações de sensibilização ambiental com os alunos. Os alunos desenvolvem pesquisas e apresentam os resultados no dia de culminância de projetos da escola. 
          O Projeto COM-VIDA da Escola 2, tem por objetivo sensibilizar alunos a preservar o patrimônio público e o meio em que convive. Além de atividades socioambientais na escola, os alunos realizam trabalhos na comunidade, tais como passeatas ecológicas, plantio de arvores, entre outras ações. 
          O Programas Mais Educação na Escola 2, desenvolve atividades apenas na ambiente escolar, sendo realizadas ações na horta da escola. Os programas Mais Educação na Escola 1 e na Escola 3 não realizam atividades socioambientais.

Perfil de professores atuantes 

          O quadro 3 mostra o perfil de três professoras atuantes em escolas de Araguaína.


         Constatou-se que apenas uma das entrevistadas declarou ter recebido preparação durante a graduação para atuar com a EA, além disso, a mesma possui especialização na área e desenvolve um projeto na escola, o COM-VIDA. As demais professoras declararam não receber preparação e não desenvolvem projetos. Nenhuma das entrevistadas têm conhecimento sobre a existência de recursos para custear despesas com projetos nas escolas. "Para um professor de educação fundamental estar preparado para trabalhar com a Educação Ambiental é preciso que em sua formação sejam contemplados conteúdos importantes e básicos sobre a diversidade de relações que implicam e condicionam o ambiente" (Rosalem & Barolli, 2013). 
          A Lei n° 9.975 de 1999 recomenda ―Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental‖ (Brasil, 1999). 

Programas do Governo Federal que contemplam a Educação Ambiental 

               A Diretoria Regional de Ensino de Araguaína (DREA) é uma unidade regional da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Tocantins, dentre as atribuições orienta as escolas estaduais sobre os programas em EA disponíveis, através de ofícios, notícias no site oficial ou através de visitas nas unidades escolares. Com relação à adesão das escolas aos programas, os professores devem enviar propostas de projetos à DREA. 
         Os Programas do Governo Federal informados pela DREA estão relacionados a seguir. O Programa Mais Educação É uma estratégia do governo para aumentar a permanência dos alunos na escola. Os alunos participantes recebem bolsa e há disponibilidade de recursos financeiros. 
          O Programa Escolas Sustentáveis é dirigido a escolas públicas e particulares. Oferece recursos financeiros para a escola de acordo com a quantidade de alunos matriculados. Para adesão, as escolas devem formar a Comissão do Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola. 
         A Comissão do Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (COM-VIDA) É uma comissão composta por professores, alunos e toda a comunidade escolar para construir a Agenda 21 nas escolas. Para criar essa comissão, é preciso que as escolas participem da Conferência do Meio Ambiente organizada pela Diretoria Regional de Ensino. A COM-VIDA é uma extensão do Programa "Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas"

A Educação ambiental no currículo dos cursos de licenciaturas da UFT 

          Atualmente a Universidade Federal do Tocantins possui 48 cursos de graduação presenciais distribuídos em sete campi no Estado do Tocantins (Figura 1), sendo 46% cursos de licenciatura.

           
          Analisando os ementários de 22 cursos de licenciatura da UFT, constatou-se que a Educação Ambiental está inserida na estrutura curricular obrigatória como disciplina específica em 27% dos cursos. A relação de cursos de licenciatura da UFT que ofertam disciplinas que contemplam a dimensão ambiental está detalhado no quadro 4.


          É importante que durante a graduação os futuros professores recebam capacitação para identificar os problemas ambientais e, dentro de suas possibilidades, promover ações para tentar resolve-los. Além disso, que sejam oportunizadas práticas investigativas na educação básica, tais como o observatório em educação, para que os acadêmicos tenham conhecimento das necessidades pedagógicas existentes e se aprimorem. 
          "[...] uma disciplina específica seria importante especialmente nos cursos de licenciatura, de modo que futuras/os mestres possam aprender, da melhor maneira, as práticas de EA e, a partir disso, consigam adotá-las nos demais níveis de ensino [...]" (Brasil, 2009). 

Considerações Finais 

          A Educação Ambiental (EA) está inserida no Projeto Político Pedagógico das três escolas Estaduais visitadas, sendo obedecidas as recomendações da Política Nacional e Estadual de Educação Ambiental, seja por meio de projetos criados por iniciativa de professores ou por adesão a programas do governo. No entanto, observa-se que não são oferecidos cursos de formação complementar na área ambiental para os professores atuantes, contrariando o que é estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. 
          A EA não está inserida no currículo de todos os cursos de licenciatura da Universidade Federal do Tocantins. Provavelmente os professores formados nesses cursos tenham dificuldades em desenvolver ações e projetos em EA durante a atuação docente. 
          Nesse sentido, as escolas precisam oferecer cursos de formação continuada para os professores atuantes desenvolverem ações de forma interdisciplinar, o currículo dos cursos de licenciaturas precisam inserir as questões socioambientais, para atender as recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. É sugerível a criação de uma disciplina específica nos cursos de licenciaturas com carga horária suficiente para capacitar educadores ambientais, além disso, que a Universidade ofereça cursos de extensão que envolva professores da educação básica a fim de capacita-los para elaborar e aplicar projetos e obter recursos para financia-los. 

Referências Bibliográficas 

BRASIL. Lei n°9.795 – Institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 1999. Disponível em: Acesso em 28 de agosto de 2014.

BRASIL. Decreto n°4.281 Regulamenta Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 2002. Disponível em: Acesso em 28 de agosto de 2014. 

BRASIL. Os diferentes Matizes da Educação Ambiental No Brasil 1997-2007. 2°ed. Brasília. 2009. Disponível em: Acesso em 13 de setembro de 2014.

BRASIL. Resolução CNE/CP n°2/2012 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Brasília, 2012. Disponível em: Acesso em 30 de setembro de 2014.

ROSALEM, B.M; BAROLLI, E. Ambientação curricular na formação inicial de professores: O curso de pedagogia da fe-Unicamp. Revista Brasileira de Educação ambiental. TOCANTINS. Política Estadual de Educação Ambiental, Lei n°1.374. Palmas, TO, 2003. Disponível em: Acesso em 25 de setembro de 2014. 

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS (UFT). Catalogo das condições de oferta dos cursos de graduação. 2010. 

Artigo Publicado em: Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 11 Nº25 v.2– 2015 ISSN 1809-3264. Páginas 58-63.

Enviado em 30/12/2014 
Avaliado em 25/01/2015

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